Hoje na sessão Psinema, vamos falar sobre o filme Magnólia (1999), dirigido por Paul Thomas Anderson, tendo no elenco atores consagrados como Tom Cruise e Julianne Moore.
Trata-se de um drama cult com 3 horas e 8 minutos de duração, que faz uma excelente leitura psicológica de nossas tragédias humanas, num perfeito entrelaçamento de situações. Vidas que se cruzam, momentos bons e ruins da vida de cada um, volta por cima ou ruina e tendo o presente como consequência das nossas decisões do passado. Decisões inapropriadas, desesperadas ou imaturas a época, que resultaram em grandes traumas e decepções que explicam, mas não justificam comportamentos incongruentes e inadequados no presente.
Parece um filme cansativo pelo seu tempo de duração, porém a narrativa e o entrelaçamento dos fatos dão uma desenvoltura ao filme em que o tempo passa sem que o torne exaustivo.
Um filme que passa de complicado a genial. Sobre a natureza humana sendo dissecada em relação às consequências dos atos do passado em nossa vida. Traumas, maus comportamentos, traições, abandono, abuso, dão o tempero do passado desses personagens e as consequências no presente e a tentativa de reparação, redenção e resgate desses comportamentos.
Assim, o filme nos fala sobre arrependimento e perdão nas nossas relações interpessoais, principalmente familiar.
O filme narra de forma entrelaçada a vida de 9 personagens:
1 – Frank Mackey: vive uma espécie de guru do sexo, dando palestras para homens machistas e sexistas como forma de domínio ou vingança ao gênero feminino. Foi um jovem que não teve acompanhamento dos pais e tenta compensar seus traumas de forma perversa e sádica. Ao final do filme reencontra o pai já em seu leito de morte, onde desabafa todo seu ódio e desprezo por ter sido abandonado junto com sua mãe. É o encontro entre o ressentimento e o amor;
2 – Earl Partridge: pai de Frank, está em seu leito de morte acometido por um câncer. Vive numa confortável casa junto a sua atual esposa, bem mais jovem do que ele. É atormentado por seus erros do passado e quer se despedir do filho como forma de pedir perdão por esses erros;
3 – Linda Partridge: atual mulher de Earl, muito mais jovem do que ele. Se casou por interesse e depois de mentiras, tramas e traições extraconjugal acaba se arrependendo de suas atitudes. No leito de morte do marido, ao vê-lo agonizar, se arrepende e acaba criando sentimentos por ele, tentando suicídio por conta do seu sentimento de culpa. Descobre o amor em seu último momento.
4 – Enfermeiro Phill: enfermeiro home care de Earl. Companheiro inseparável, trata-se de um personagem de grande bondade e sensibilidade. Em seus momentos de cuidados com o paciente, acaba se tornando ouvinte de suas confidências e tenta ajudá-lo em seus momentos finais;
5 – Jimmy Gator: famoso apresentador de um programa de perguntas na televisão, chamado O que as crianças sabem? (What do kids know?). Sofre de câncer terminal e do sentimento de culpa dos erros do passado. Tenta se reconciliar com a filha Cláudia e pede perdão a esposa Rose Gator referente a sua vida extraconjugal;
6 – Stanley Spencer: uma criança inteligente que sofre grande assédio e pressão de seu pai, autoritário, exigente e controlador. Tem como desafio, vencer o programa de perguntas apresentado por Jimmy Gator. Tenta demostrar sua real intenção de ser uma criança normal e não uma marionete das vontades do pai e do público.
7 – Donnie Smith: o homem que teve sua inocência roubada. Quando criança ganhou o referido programa de perguntas e respostas, tornando-se famoso e reconhecido. Hoje encontra-se solitário e depressivo. Toma algumas atitudes movidas por situações do seu passado;
8 – Cláudia: filha de Jimmy Gator e Rose Gator. Mora sozinha, com frequentes crises de histeria referente a traumas do passado. Viciada em Cocaína, cresceu com traumas e terríveis lembranças;
9 – Jim: policial honesto, solidário e prestativo. Vive auxiliando o próximo e nessas casualidades conhece alguns dos outros personagens. Torna-se em alguns momentos o narrador de algumas histórias e acontecimentos.
Assim, esses personagens buscam durante a narrativa do filme, amor, companhia, compreensão, perdão e novas oportunidades numa busca incessante de um lugar no mundo.
O filme nos fala principalmente de arrependimento e perdão nas relações interpessoais, o que podemos traduzir para nossas vidas.
Chega uma época, em determinado momento, que o peso do passado nos corrói e nos traz sofrimentos quase que insuportáveis. Isso é muito comum vir à tona durante o processo Psicoterapêutico ou de Análise pela Psicanálise em si.
Sigmund Freud nos ensinou que não temos controle sobre nossos sentimentos e que os nossos comportamentos são moldados por processos inconscientes. Esses ligados a acontecimentos, eventos ou traumas do passado.
Assim, no filme, o diretor cita através de alguns dos personagens a frase “nós já passamos pelo passado, mas o passado ainda não passou por nós. ”
O que nos molda enquanto humanos é baseado em experiências do passado, sejam elas boas ou ruins.
No caso do filme, o diretor Paul Thomas Anderson faz um estudo sobre nossas tragédias do passado. Com isso surge o perdão, novos valores ou crises existenciais.
Também fala sobre casualidades e destino. Histórias humanas ligadas ao acaso, coincidências e destinos entrelaçados.
O passado como explicação do presente.
Somos frutos do nosso passado. Agimos de forma inconsciente como consequência do que nos fizeram, do que nos foi introjetado, ensinado ou de traumas e decepções que sofremos. Neuroses, Borderline e Psicopatias surgem nesse contexto frente a uma sociedade cada vez mais adoecida, depressiva, ansiosa, solitária, vivendo sobre forte estresse e pressão.
Fatos estranhos acontecem o tempo todo
A Chuva de Sapos
A descrição dos personagens não constitui “spoiler”, pois o filme é muito mais do que o descrito. É muito complexo e abrangente. Assim, como não constitui spoiler o fato que será narrado e explicado a seguir.
A chuva de sapos, aranhas, peixes, pássaros ou outros pequenos animais é um fenômeno raríssimo, porém que já aconteceu e acontece por vezes, quando as condições meteorológicas e acontecimentos climáticos se entrelaçam.
No momento de maior clímax do filme, onde os personagens estão a flor da pele, em seus maiores níveis de estresse e pressão, quando todos pareciam estarem sem saída ou solução para seus problemas e conflitos, muitos recorreram a saídas trágicas.
Porém nesse momento, ocorre inesperadamente uma chuva de sapos. Um fenômeno raro que o diretor utilizou como uma representação metafórica do acaso em sua plenitude.
Eis a fala do personagem Stanley Spencer, a criança do programa de perguntas, sobre o ocorrido, já que por sua extrema inteligência e estudos, já tinha estudado sobre tal fenômeno como condição meteorológica:
“Mas aconteceu! É algo que acontece! É algo que acontece! ”
Esse acontecimento muda de forma inesperada o destino dos personagens. Cada um foi afetado de alguma maneira ou teve seu comportamento alterado por tal situação.
Todos os incidentes, causalidades, conflitos e situações vividas pelos personagens trazem à tona uma reflexão sobre nossas vidas: temos um ser superior que direciona nossas vidas ou cumprimos simplesmente o acaso?…
Desvendando o fenômeno
Trata-se de um fenômeno extremamente incomum, com pouquíssimos casos registrados. Ocorre por conta de tornados ou furacões, que por sua extrema força dependendo da categoria registrada, arrasta junto de si animais de diferentes espécies. Porém, como a grande maioria desses animais vivem em bando, quando o tornado ou furacão passa por eles, carrega simplesmente todo o bando.
Quando cessa a atividade do tornado ou do furacão, tendo percorrido determinado percurso, ao perder sua força, faz com que caia ao chão os animais, como no exemplo, sapos, dando assim, o fenômeno chamado de chuva de animais, no filme chuva de sapos.
Uma pequena curiosidade sobre o título do filme, é que Magnólia, trata-se da flor original, a primeira flor a surgir na Terra.
Outra curiosidade é que o drama mostra na maioria dos seus personagens, desentendimentos e erros entre pais e filhos, o que vale de grande exemplo para nós em termos de saúde mental e emocional.
