Na cidade grande infelizmente há tempos já perdemos o costume de nos cumprimentarmos uns aos outros. Um bom dia, uma boa tarde, um boa noite, um olá. Dificilmente ainda é feito entre vizinhos. Mas e entre estranhos? Você cumprimenta o motorista ou o cobrador do ônibus, o porteiro, o faxineiro, o gari?
Mas não é só cumprimentar, é se dar conta da sua existência, da sua presença. Geralmente nos atentamos e prestamos atenção a quem está de terno e gravata, uma mulher de terninho social, alguém bem vestido, o que nos dá um sinal de status social.
Mas por quê temos esse comportamento, por quê damos atenção a quem possui bens e coisas, está num bom carro e está bem vestido?
Por vezes desprezamos quem está supostamente abaixo de nós e exigimos atenção ou tentamos nos fazer percebidos entre aqueles que estão acima de nós.
Vocês já ouviram falar no termo Invisibilidade Pública ou Invisibilidade Social?
Em 2008, o Psicólogo Social Fernando Braga da Costa, em sua Tese de Doutorado pela Universidade de São Paulo, pelo Instituto de Psicologia, Departamento de Psicologia Social e do Trabalho, realizou uma pesquisa etnográfica e relatos orais das histórias de vida de dois garis, como complemento da sua dissertação de Mestrado, de 2002. A continuação do trabalho foi para se aprofundar num fenômeno pouco conhecido da nossa sociedade, porém muito recorrente entre nós, a Invisibilidade Pública, também conhecida como Invisibilidade Social.
Como diz o autor, trata-se de um fenômeno intersubjetivo, uma espécie de desaparecimento psicossocial de um homem no meio de outros homens.
No mestrado de 2002, Fernando realizou uma pesquisa de campo, em que participou ativamente se juntando ao grupo de garis.
Ficou semanas trabalhando com os demais garis, de uniforme e nas mesmas condições de trabalho.
O surpreendente foi que por semanas de trabalho, nenhum de seus colegas de curso e seus professores notaram sua presença entre os trabalhadores. Não por estar de uniforme de gari, mas porque ninguém sequer reparava a presença desses profissionais no local. Ninguém os enxergava. Um bom dia ou boa tarde impossível.
Fenômenos como esse causam um grande estrago psicológico em quem sofre essa discriminação social, essa invisibilidade perante a população, principalmente por aqueles que possuem status social e posição econômica superior.
Isso torna-se comum em todos os setores trabalhistas. Profissionais de fábricas até ganharam o apelido pejorativo de “funcionários chão de fábrica”, dado por supervisores e superiores do escritório de tal indústria.
Vemos constantemente em escritórios funcionários bajularem seus superiores e menosprezarem os inferiores, como funcionários da limpeza ou responsáveis pelo café, por exemplo, isso quando demonstram não perceberem suas presenças.
E o porteiro? Você o cumprimenta? Sabe seu nome?
Boas intenções já estão sendo realizadas por alguns bons profissionais Brasil afora, como num bandejão de uma grande empresa, onde os funcionários trocaram de lugar e estes serviram o almoço aos funcionários responsáveis por fazer e servir o almoço. Só depois se serviram e almoçaram. Isso foi uma forma de agradecimento e reconhecimento por seus trabalhos.
Atitudes humanas como essa nos fazem perceber, principalmente nos dias atuais de crise, que podemos numa hora estar por cima e depois de uma hora para outra podemos estar por baixo. E agora? Quando se está por baixo, como você gostaria de ser tratado?
Fatores psicológicos explicam tais comportamentos da invisibilidade social, pois alguém que menospreza o próximo que esteja abaixo talvez esteja de forma inconsciente compensando suas próprias frustrações, incapacidades e baixa autoestima.
Somos todos iguais, e a vida nos ensina sobre isso, seja por experiências boas ou por grandes tombos que levamos de vez em quando.
Permita-se olhar para o seu próximo!
Sobre o tema e a Tese de Doutorado do Psicólogo Doutor Fernando Braga da Costa:
http://www.usp.br/agen/repgs/2003/pags/036.htm
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-09012009-154159/publico/costafernando_do.pdf